terça-feira, 5 de novembro de 2013

Irmãozinho


Saí de casa como faço todos os sábados, muito cedo e fui dar um passeio pela cidade, para ver a vida a florescer naquele lindo dia de Primavera.
Nem tomei o pequeno-almoço em casa porque o Jorge, o senhor do café ao fundo da minha rua, fazia sempre pão ao sábado e àquela hora já havia pão quente. Depois de um pequeno almoço à maneira e uma maça de graça, que fui a roer pelo caminho, dirigi-me para o pinhal, para sentir o cheiro da resina, acabada de ser recolhida dos pinheiros.
Estava eu muito sossegada a observar uns pássaros a construir o seu ninho, quando ouvi gemidos e um choro abafado. Estava curiosa e decidi seguir aquele barulho. Passei mais de vinte minutos à procura, até que, ao passar por um amontoado de pedras, consegui distinguir melhor o choro e, para minha grande surpresa, por detrás das pedras estava um bebé nu, apenas enrrolado numa manta fina.
Peguei-lhe imediatamente e verifiquei se ele estava ferido. Aparentemente estava bem e isso aliviou-me muito.
Quando me virei para me ir embora com ele, deparei-me com um problema, a curiosidade levara-me muito para dentro do bosque, estava perdida.
Andei às voltas para ver se encontrava uma saída, mas encontrava sempre o mesmo monte de pedras. Acabei por desistir, aconchegando o bebé nos braços e sentando-me no chão à procura de uma solução. Mas quando parecia que tinha uma, esta tinha sempre uma falha lá pelo meio. Aos poucos comecei a sentir-me assustada e stressada.
De repente lembrei-me do telemóvel  e levei as mãos a todos os bolsos, do casaco e dos calções. Respirei de alívio quando o senti no bolso de trás dos calções. Liguei para a polícia e pedi que viessem o mais rápido possível, porque o bebé podia precisar de assistência médica.
Ainda demorou um bocado até os polícias chegarem com os seus cães. Mas não vieram sozinhos, os meus pais vinham com eles e ao ver-me correram a abraçar-me:
- Pregaste-nos um valente susto, Alice – disseram com os olhos marejados de lágrimas.
- Eu sei!, - respondi – mas ao ouvir o choro não resisti a ver de onde vinha. Prometo que não volta a acontecer. – disse-lhes sorrindo.
- Espero bem que não! - disse o pai sorrindo.
Voltamos para casa, passando primeiro pelo hospital. Lá para me agradecer por ter salvo o bebé, deram-lhe o nome que eu escolhi, Ricardo, e confiaram-no aos meus pais.
Apesar daquele susto, acabei por ganhar a coisa mais maravilhosa do mundo, um lindo irmãozinho.
E foi assim que te conheci e que te tornaste no homem mais maravilhoso que vei ao mundo.