domingo, 27 de abril de 2014

Quem espera sempre alcança!

- Pai, mãe! Vi uma camisola linda dos 1D. Eles são a minha banda preferida. Dão-me dinheiro para a comprar! - Pediu Sofia, com um entusiasmo enorme, quando chegou a casa depois da escola.
- Calma miúda, boa tarde primeiro. - Disse Jorge, o pai dela, com um sorriso.
- Boa tarde pai, boa tarde mãe! - Disse ela com uma voz angélica. – Então o que dizem? -Perguntou logo a seguir sem perder mais tempo.
- Depende de muita coisa, principalmente do preço! Quanto custa a tal camisola? - Perguntou Clara, a mãe, já desconfiada.
- Vinte e três euros. - Respondeu ela de cabeça baixa.
- Para uma camisola é um bocado cara não achas?! – Perguntou a mãe.
- Não nos importaríamos de te dar dinheiro para a comprar, mas agora não dá muito jeito sabes?! – Disse o pai.
- Ok. Vou fazer trabalhos de casa.
Sofia saiu da sala e foi para o seu quarto com lágrimas nos olhos. Fez os trabalhos, foi jantar e não disse nem uma palavra. Os pais sabiam que ela estava triste, mas não podiam fazer nada, porque não tinham dinheiro para lhe dar naquele momento.
Sempre que saía da escola Sofia para na loja a admirar a camisola e a pensar no terrível momento em que alguém a compraria e nunca mais a poderia admirar.
Na escola perguntou à professora depois da aula o que poderia fazer para ter a camisola e a professora sugeriu:
- E que tal dispensares algum do teu tempo livre para fazeres pequenos trabalhos até teres o suficiente para a comprar?
- Obrigada professora, é uma ótima ideia! – Respondeu Sofia.
Correu para casa para contar aos pais aquela ideia e para satisfação dela eles concordaram de bom grado.
A partir desse dia a rapariga trabalhou a duzentos fora de casa, a fazer favores aos vizinhos que lhe pagavam um ou dois euros por cada trabalho que fazia.
Ela trabalhou um mês inteiro e conseguiu dinheiro suficiente para comprar a tal camisola tão cobiçada.
Uma tarde, quando dobrou a última esquina antes de chegar à loja, para comprar a camisola, um homem passou por ela e tirou-lhe a carteira com o dinheiro certo para a sua compra e mais, fê-la cair.
A rapariga ainda se levantou e foi atrás dele, mas como é óbvio não o apanho. As lágrimas escorreram-lhe pelos olhos e ficou pior ainda, quando olhou para a montra e não viu a camisola. Correu para casa e quando chegou não disse olá nem adeus, foi para o quarto trancou a porta e atirou-se para a cama a chorar alto. Todo aquele trabalho durante um mês e além de ter sido roubada a camisola já não estava no sítio dela.
A mãe e o pai foram várias vezes bater à porta para ver como ela estava e saberem porque é que ela estava a chorar. Sofia não queria ver, muito mesmo falar com quem quer que fosse, nem mesmo com os pais, com quem falar sobre tudo por isso não abriu a porta a não ser à hora do jantar.
Jantou e foi para a cama sem dizer nada nem sobre aquele assunto nem sobre qualquer outro.
Na manhã seguinte antes de ir para a escola Sofia foi interpelada pelos pais, que não a deixaram sair de casa antes de justificar o seu comportamento na noite anterior.
- Ok!, eu conto. - Cedeu ela.
- Então o que foi? - Perguntou a mãe.
- Para começar, já alguém comprou a camisola, e depois um homem roubou-me o dinheiro que economizei para a comprar! - Os olhos da menina ficaram marejados de lágrimas.
Limpou as lágrimas, abriu espaço entre os pais e foi para a escola de olhos postos no chão.
Aquele era o último dia de aulas antes das férias de Natal, por isso quando chegou a casa, Sofia passou o resto da tarde a fazer os trabalhos de férias que lhe tinham sido propostos, a ouvir música e a ler.
A única coisa que lhe iria arruinar as férias era o nó que sentia na garganta sempre que pensava na camisola que nunca mais veria.
O pior aperto que sentiu foi na manhã da véspera de Natal, porque nessa noite iria receber as prendas e ela não teria a camisola.
Nessa manhã esteve entretida a ajudar a mãe com o almoço, esteve, com ajuda do pai, a juntar duas mesas na sala, para que toda a família pudesse almoçar e jantar lá em casa com eles.
Ao almoço houve carne assada, roupa velha, peru assado, capão assado, vinho para os adultos, sumo e água para as crianças. Depois do almoço esteve a brincar com os bebés da família para se certificar de que eles não se magoavam, ajudou mais tarde a adormecê-los e deu-lhes o lanche quando acordaram da sesta.
Ajudou as tias, as avós e a mãe a fazer o jantar e as sobremesas, e todas elas lhe disseram que tinha um jeito especial para cozinhar. A rapariga estava contente por lhes agradar tanto, mas apesar de todos os elogios que lhe foram feitos e todos os sorrisos que lhe foram dirigidos, a tristeza reinava no seu coração.
Jantaram e quando o jantar acabou, ela começou a ficar nervosa sem razão nenhuma, mais nervosa do que no decorrer daquele dia pareceu-lhe que a sua mente ainda estava à espera de receber a camisola, mas Sofia ignorou esse sentimento e simplesmente esperou.
Os minutos passavam muito devagar e o seu coração acelerava a cada minuto, provocando-lhe dores de cabeça e tonturas, só acalmou quando se ouviu o sino da igreja ao longe a bater as doze badaladas.
Como todos os anos as crianças calaram-se ouviu-se a porta da rua a bater e um "Hohoho!!!" muito animado e cheio de, como diziam as crianças, magia.
Quando a porta voltou a bater, as crianças saíram todas do quarto de Sofia, desceram as escadas numa grande euforia, aos risos e gritos histéricos e foram para a sala, mais uma vez, à espera de terem o que pediram.
Os adultos distribuíram as prendas pelos mais pequenos, primeiro para os entreter e por fim pelos mais velhos. Sofia recebeu roupas, livros, um diário cheio de estilo, uma mochila nova para usar no segundo período de aulas, uma caixa de chocolates e dinheiro.
Depois de toda a gente ter os seus presentes, a mãe de Sofia fingiu não ver o último presente debaixo da árvore, foi Sofia que a chamou à atenção:
- Mãe, esqueceste-te deste! - Disse ela pegando no embrulho. Mas quando viu que era para ela calou-se e abriu-o devagar. E quando viu que era precisamente aquela camisola que ela queria, a dos 1D, aquela que pensou nunca mais ver, estava agora nas suas mãos.
- Mãe.... - a rapariga não tinha palavras para descrever a felicidade que a assolava. - Nem sei o que dizer. Pensei que nunca mais a veria. Como é que vocês.....
- Como ficaste tão triste quando te dissemos que não, decidimos por algum dinheiro de parte e..... aí está a nossa prenda especial! - Disse-lhe o pai com um sorriso terno.
Sofia apertou a camisola com afeto contra o peito e olhou para os pais com um grande sorriso e com lágrimas nos olhos. Correu para eles e envolveu-lhes a cintura, abraçando-os a chorar de alegria.
- Não há pais melhores que vocês e nunca acreditaria se alguém o dissesse! - Disse ela no meio das lágrimas.
- Nós também te amamos Sofia. Muito e para sempre. - Disse-lhe a mãe.
Os três abraçaram-se durante muito tempo e todos choram de alegria, porque aquele dia se tornou ainda mais especial.