sábado, 20 de dezembro de 2014
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Mar bravo
O dia estava bonito, o céu limpo de nuvens, o sol estava
forte e o calor era abrasador (o vento temperava a coisa).
As gaivotas pairavam por cima de nós como bailarinas
voadoras.
Eu e o meu pai observávamos o mar e conversávamos acerca da
força da água e das suas correntes avassaladoras.
De repente, quando ninguém esperava, uma onda enorme
salta-nos em cima e atira-me ao chão. Depois de me conseguir levantar, com
ajuda do meu pai, olhei a praia e deparei-me com uma enorme confusão. As
pessoas corriam atrás das suas roupas, chinelos, guarda-sóis..... Estava tudo a
ser arrastado pela água, devido à força daquela onda.
O meu pai, aflito, olhou em todas as direções e depois de
verificar que eu estava bem, largou a correr pela praia fora para ver onde
estavam a minha mãe e a minha irmã e, também, para ter a certeza de que nenhuma
criança era arrastada.
Os nossos pertences, apesar bastante molhados, estavam a
salvo. A minha mãe, no entanto, ainda pensou que tinha perdido um chinelo, mas
acabou por conseguir encontrá-lo.
Quando as coisas acalmaram pegámos nas nossas coisas e fomos
livrá-las da areia que se lhes pegou numa poça de água enorme que a onda cavara
uns metros à nossa esquerda. De seguida pusemo-las a secar e sentámo-nos nas
rochas a lanchar deliciosas sandes de frango, a beber iogurte e a comer
melancia.
A partir daí tudo correu às mil maravilhas.
O mar acalmou e apesar eu estar um bocado nervosa e insegura
em relação a voltar a entrar na água, o meu pai convenceu-me a irmos, os dois,
dar uns mergulhos. Passeámos pela praia e eu e minha irmã fizemos um castelo de
areia. Ficámos até que o sol se pôs, e tenho de confessar, foi lindo...
A menina do parque
Sábado, um
daqueles dias que não se pode desperdiçar.
"O que é que eu estou a fazer,
feita preguiçosa, sentada no sofá a comer pipocas e a ver um filme que nem
sequer tem piada? É ridículo!" - Pensei.
Desliguei a televisão e fui pousar o pacote de pipocas na cozinha. Tomei banho, vesti-me e saí para dar um passeio.
Vi montras cheias de roupas, sapatos e malas lindas, mas como sempre, no meio de todas aquelas coisas maravilhosas, não comprei nada!
Fui dar uma volta até ao parque. Quando lá cheguei, vi uma menina não tinha mais de seis anos. Tinha um sorriso maroto, lábios finos e cor-de-rosa muito claros quase brancos. O cabelo loiro, liso e curto, estava preso com uma pequena mola cor-de-rosa.
Um olhar tão maroto como o sorriso, ela estava um tanto pensativa e distante. Olhos eram tão vivos, tão azuis e brilhantes como o mar num dia de sol.
Pele lívida e brilhante, revestida com um vestido de seda branca de renda e que lhe assentava lindamente.
Parecia um anjo, sentada entre as folhas castanhas, amarelas e vermelhas, que caiam à sua volta.
A rapariga estava sozinha e não vi nenhum adulto ali por perto para a vigiar e tomar conta dela. Fiquei com receio que estivesse perdida ou algo do género por isso aproximei-me e perguntei:
- Estás perdida? Não sabes da tua mãe?
- A minha mãe está ali - ela apontou para uma senhora de meia-idade que estava a conversar sem prestar atenção à criança. - Está a falar com a minha tia. - Respondeu-me com uma voz fina, de anjo.
- Não tens medo de ficar aqui sozinha? - Perguntei-lhe.
- Não! - Disse ela com um sorriso. - Ela faz sempre isto, conversa, conversa e conversa, eu canso-me e vou passear.
- E ela não se zanga contigo por ires, sozinha? – Perguntei-lhe.
- Ela não me vê a sair do seu lado, nem a voltar, por isso, posso ir quando quero. – Respondeu.
- E não achas que isso é perigoso? - Continuei.
- Não! Eu sou valente e ninguém me faz mal! – Respondeu-me com o seu sorriso maroto.
- Há por aí muitas pessoas que apanham meninas como tu, e não as devolvem aos pais, sabias? – Perguntei-lhe.
- Não. – Respondeu. – Tu és uma dessas pessoas?
- Claro que não, muito pelo contrário. Essas pessoas não gostam de meninas como tu e fazem-lhes mal eu acho-te a menina mais bonita que alguma vez vi no parque. Por que haveria de te fazer mal? – Disse-lhe com uma gargalhada. – Tenho uma ideia! E que tal, se nos tornássemos amigas? Achas bem? – Perguntei.
Ela fitou-me, ofereceu-me um sorriso e respondeu:
- Está bem. Vens cá amanhã? Eu trago uns desenhos que fiz para tu os veres. Serás a primeira.
- Ainda não os mostraste à tua mãe ou ao teu pai? – Perguntei-lhe incrédula.
- Os meus pais nunca se interessaram muito pelos meus desenhos. – Respondeu.
- Oh! – Foi a única coisa que consegui dizer.
Ela levantou-se e foi aí que reparei que ainda não sabia o nome dela. Estiquei a mão e agarrei-lhe no braço com delicadeza e perguntei:
- Como te chamas?
- Inês. – Respondeu com um sorriso. – E tu? – Perguntou-me.
- Diana. – Respondi sorrindo também.
Soltei-a e ela correu para a mãe e ambas se foram embora. Fiquei a observá-las enquanto se afastavam e quando deixei de as ver levantei-me e fui para casa com um sorriso nos lábios.
Por mais que tentasse, não consegui tirar a rapariga do pensamento, principalmente o que ela disse sobre os pais. Senti-me sensibilizada e um tanto triste por aquela menina não ter a atenção que devia.
Mais tarde fui-me deitar ainda a pensar nisso e só consegui adormecer perto das duas da manhã.
Com toda aquela ansiedade, no dia seguinte, só me levantei ao meio-dia. Preparei o almoço para mais tarde para ver conseguia acalmar os ânimos.
Na noite anterior não tive a certeza, mas nessa manhã, percebi que tinha criado uma ligação muito forte com Inês.
À tarde fui para o parque e fiquei feliz quando lá cheguei e a vi sentada no mesmo sítio onde a conheci.
Quando me viu Inês sorriu, levantou-se e quando me sentei ao pé dela, beijou-me no rosto. Devolvi-lhe o gesto.
Ela tinha uns papéis na mão, que me deu depois de se voltar a sentar. Tinham desenhos de pássaros, bonecas, baloiços, o sol, o céu e a relva.
- São tão bonitos! Como é que os teus pais podem não querer vê-los? - Perguntei muito espantada.
- O meu papá morreu quando eu nasci e a minha mamã gosta mais de falar com a minha tia do que de ver os meus desenhos.- Respondeu encolhendo os ombros.
Vi-lhe lágrimas nos olhos quando falou do pai, mas rapidamente as limpou olhando para mim com um sorriso.
- Por isso és tu a primeira a vê-los, como eu disse ontem. - Disse ela continuando a sorrir.
- Bem, e como eu já tinha dito, os teus desenhos são lindos! - Comentei esboçando um sorriso.
- Obrigada! - Respondeu-me.
- Onde aprendeste a desenhar assim Inês? -Perguntei.
- Aprendi sozinha. Já desenho desde os três anos. - Respondeu-me com um sorriso.
- Uau, é espantoso! - Comentei maravilhada.
- Posso desenhar para ti! -Sugeriu-me.
- E por que não? Adorava! -Disse-lhe com entusiasmo. - Trouxeste folhas e lápis?
- Sim. Trago sempre e tento desenhar aquilo que me parece mais bonito no parque. Como as folhas, o céu, as árvores….
Apoiei a cara na mão e fiquei a ouvi-la a enumerar todas as coisas belas do parque, até das pessoas ela falou.
Conversámos, fizemos desenhos, e para ser sincera Inês fazia-os muito melhor do que eu, e rimo-nos imenso principalmente dos meus desleixados desenhos.
- Sabes que faço anos amanhã?!- Disse ela de repente.
- Não, não sabia! Quantos anos fazem? - Perguntei.
- Sete. - Respondeu.
- Vais ter uma festa e bolo, não é?
- Não. A minha mamã só me dá uma prenda, nada de festas. - Respondeu-me.
- A sério? E tu não ficas triste com isso?- Perguntei parando de desenhar e olhando- a nos olhos.
- Um bocadinho, mas já estou habituada, por isso não digo nada!
- Nem choras?
- Sim, durante toda a noite, mesmo sabendo que não vale a pena.
Não consegui dizer mais nada, só consegui pensar "Coitadinha nem uma festa de anos a mãe lhe faz!", mas eu não podia fazer nada. Só se.... Virei-me para ela radiante, porque tinha tido uma ideia maravilhosa.
- Amanhã trás o teu vestido mais bonito! - Disse-lhe com um grande sorriso.
- Está bem. Mas porquê?-Perguntou confusa.
- Nada. Trá-lo é só isso. - E continuei a desenhar sem dizer mais uma palavra acerca do assunto.
- Ok. - Disse ela continuando também a desenhar e a rir-se dos meus desenhos.
- Ha ha ha! Esse parece uma pedra com picos! - Disse Inês entre as gargalhadas.
- Não, este já se parece com um pássaro. -Protestei, rindo-me logo a seguir.
- Não, isto é que se parece com um pássaro, Di. - Ripostou apontando para o seu desenho.
- Também. Tens razão. O teu parece-se mais com um pássaro do que o meu, mas ainda só estou a aprender! -Voltei a protestar.
- Pois! - Disse Inês dando uma risadinha.
Às sete disse-lhe que tinha de me ir embora. Inês voltou a dar-me um beijo na testa, mas desta vez esperou deixando-me beijar-lhe a bochecha.
- Adeus miúda. Porta-te bem e até amanhã! -Disse-lhe antes de ir.
- Adeus Di. Até amanhã! -Respondeu-me indo-se embora a seguir.
Fiquei a vê-la ir-se embora e depois saí do parque, mas em vez de me ir embora, fui a uma loja de roupa comprar um vestido para Inês.
Quando cheguei a casa e embrulhei o presente. Depois fui fazer um grande queque e guardei tudo dentro de um saco, mais uma vela com o número seis e um isqueiro.
No outro dia de manhã estava ansiosa por ir ao parque outra vez primeiro, porque queria ver Inês e depois porque queria ver a reação dela à pequena festa que lhe preparei.
Bem, à tarde lá fui eu novamente para o parque, com o saco na mão e um sorriso nos lábios. "Espero que ela goste" pensei quando lá cheguei. Vi-a sentada em cima das folhas com aquele olhar pensativo e com aquele vestido de seda com o qual estava no dia em que nos conhecemos. Aproximei-me e pousei o saco no chão.
- Parabéns pequenina! -Disse-lhe dando-lhe um grande beijo no rosto.
Ela riu-se e disse com um sorriso:
- Obrigada Di.
Inês vira-se para tirar qualquer coisa da mochila que está atrás dela e, eu, com toda a rapidez tiro o queque, o isqueiro e a vela do saco e acendo-a.
- Parabéns a você, nesta data querida.....- Começo a cantar.
Inês vira-se lentamente para mim e ao ver o bolo fica muito quieta a olhar-me e à medida que eu cantava às lágrimas caiam-lhe com mais intensidade pelo rosto a baixo.
E quando a cabei de cantar disse-lhe novamente:
- Parabéns Inês. Só te queria dizer que apesar de nos conhecer-mos à pouco tempo, eu te adoro como se fosses minha filha e....
Ela não me deixou acabar, atirou-se para o meu pescoço e disse:
- Quem me dera que o que dizes fosse verdade, porque eu também te adoro como se fosses minha mamã Di!
Fiquei sem fala e uma lágrima escorreu-me pelo rosto abaixo. Apertei-a contra mim e beijei-lhe o cabelo com ternura. Depois soltámo-nos, eu limpei as minhas lágrimas e passei os polegares pelos olhos dela limpando-lhe as lágrimas também.
- Tenho mais uma coisa par ti.
Voltando-me para o saco, tirando o vestido que lhe tinha comprado.
- É um presente..... obrigada Di! - Vieram-lhe novamente as lágrimas aos olhos.
Puxei-a para o meu peito encostando-a a mim com ternura.
- Adoro-te Inês. Seremos amigas para sempre e nada nos separará, nunca! - Prometi-lhe, com um sorriso.
Ela olho-me com um sorriso e com os olhos molhados e, mais uma vez, limpei-lhe os olhos com os polegares. Dei-lhe o embrulho com o vestido e fiquei a vê-la abri-lo, com cuidado e devagar, depois fizemos o que costumava-mos fazer, desenhar, pintar, dar um passeio pelo parque e ao fim do dia ambas fomos para casa.
Repeti-mos os encontros no dia seguinte e no outro e no outro e para abreviar por vários meses e divertimo-nos mais do que nunca as duas.
Mas um dia a nossa felicidade foi derrubada por uma mudança.
Dia 30 de julho, cheguei ao parque para ver Inês novamente, mas quando ela me viu em vez de sorrir e ficar com aquele ar pensativo, correu para mim a gritar o meu nome.
- Eh, acalma-te! Está tudo bem. Eu estou aqui! - Disse-lhe quando ela embateu em mim com toda a força e a dizer repetidamente "Não, não, não, ....". - Acalma-te e conta-me o que aconteceu. - Insisti.
Ela acalmou-se e disse a soluçar.
- A.... minha.... mãe.... quer.... mudar.... de.... casa.... e.... vai.... levar-me!
Recomeçou a chorar contra a minha camisola. Baixei-me e sentei-me no chão sentando-a no meu colo.
- E não gostas da casa? É isso?- Perguntei.
- Não! - Respondeu-me fungando. - A casa é muito bonita, grande, quente e confortável.
- Então porque choras? - Perguntei confusa, arqueando as sobrancelhas.
- Porque não vou voltar a este parque. Nunca mais! Não vou estar contigo nunca mais. - Respondeu-me com lágrimas nos olhos.
Não consegui dizer mais nada porque se disse-se começaria a chorar também, por isso limitei-me a encostá-la a mim e acariciar-lhe o cabelo.
- Independentemente do que acontecer e do quão longe nós fiquemos, tu serás sempre a minha menina e estarás sempre no meu coração, nunca te esqueças disso. Vou ter muitas saudades tuas e gostava que ficasses, mas sei que vais acabar por te habituar à tua nova casa, aos novos amigos e provavelmente a um novo parque. E talvez faças uma nova amiga nesse parque. Já pensaste como seria giro?! - Disse-lhe sorrindo, tentando disfarçar o tremor na minha voz.
Desliguei a televisão e fui pousar o pacote de pipocas na cozinha. Tomei banho, vesti-me e saí para dar um passeio.
Vi montras cheias de roupas, sapatos e malas lindas, mas como sempre, no meio de todas aquelas coisas maravilhosas, não comprei nada!
Fui dar uma volta até ao parque. Quando lá cheguei, vi uma menina não tinha mais de seis anos. Tinha um sorriso maroto, lábios finos e cor-de-rosa muito claros quase brancos. O cabelo loiro, liso e curto, estava preso com uma pequena mola cor-de-rosa.
Um olhar tão maroto como o sorriso, ela estava um tanto pensativa e distante. Olhos eram tão vivos, tão azuis e brilhantes como o mar num dia de sol.
Pele lívida e brilhante, revestida com um vestido de seda branca de renda e que lhe assentava lindamente.
Parecia um anjo, sentada entre as folhas castanhas, amarelas e vermelhas, que caiam à sua volta.
A rapariga estava sozinha e não vi nenhum adulto ali por perto para a vigiar e tomar conta dela. Fiquei com receio que estivesse perdida ou algo do género por isso aproximei-me e perguntei:
- Estás perdida? Não sabes da tua mãe?
- A minha mãe está ali - ela apontou para uma senhora de meia-idade que estava a conversar sem prestar atenção à criança. - Está a falar com a minha tia. - Respondeu-me com uma voz fina, de anjo.
- Não tens medo de ficar aqui sozinha? - Perguntei-lhe.
- Não! - Disse ela com um sorriso. - Ela faz sempre isto, conversa, conversa e conversa, eu canso-me e vou passear.
- E ela não se zanga contigo por ires, sozinha? – Perguntei-lhe.
- Ela não me vê a sair do seu lado, nem a voltar, por isso, posso ir quando quero. – Respondeu.
- E não achas que isso é perigoso? - Continuei.
- Não! Eu sou valente e ninguém me faz mal! – Respondeu-me com o seu sorriso maroto.
- Há por aí muitas pessoas que apanham meninas como tu, e não as devolvem aos pais, sabias? – Perguntei-lhe.
- Não. – Respondeu. – Tu és uma dessas pessoas?
- Claro que não, muito pelo contrário. Essas pessoas não gostam de meninas como tu e fazem-lhes mal eu acho-te a menina mais bonita que alguma vez vi no parque. Por que haveria de te fazer mal? – Disse-lhe com uma gargalhada. – Tenho uma ideia! E que tal, se nos tornássemos amigas? Achas bem? – Perguntei.
Ela fitou-me, ofereceu-me um sorriso e respondeu:
- Está bem. Vens cá amanhã? Eu trago uns desenhos que fiz para tu os veres. Serás a primeira.
- Ainda não os mostraste à tua mãe ou ao teu pai? – Perguntei-lhe incrédula.
- Os meus pais nunca se interessaram muito pelos meus desenhos. – Respondeu.
- Oh! – Foi a única coisa que consegui dizer.
Ela levantou-se e foi aí que reparei que ainda não sabia o nome dela. Estiquei a mão e agarrei-lhe no braço com delicadeza e perguntei:
- Como te chamas?
- Inês. – Respondeu com um sorriso. – E tu? – Perguntou-me.
- Diana. – Respondi sorrindo também.
Soltei-a e ela correu para a mãe e ambas se foram embora. Fiquei a observá-las enquanto se afastavam e quando deixei de as ver levantei-me e fui para casa com um sorriso nos lábios.
Por mais que tentasse, não consegui tirar a rapariga do pensamento, principalmente o que ela disse sobre os pais. Senti-me sensibilizada e um tanto triste por aquela menina não ter a atenção que devia.
Mais tarde fui-me deitar ainda a pensar nisso e só consegui adormecer perto das duas da manhã.
Com toda aquela ansiedade, no dia seguinte, só me levantei ao meio-dia. Preparei o almoço para mais tarde para ver conseguia acalmar os ânimos.
Na noite anterior não tive a certeza, mas nessa manhã, percebi que tinha criado uma ligação muito forte com Inês.
À tarde fui para o parque e fiquei feliz quando lá cheguei e a vi sentada no mesmo sítio onde a conheci.
Quando me viu Inês sorriu, levantou-se e quando me sentei ao pé dela, beijou-me no rosto. Devolvi-lhe o gesto.
Ela tinha uns papéis na mão, que me deu depois de se voltar a sentar. Tinham desenhos de pássaros, bonecas, baloiços, o sol, o céu e a relva.
- São tão bonitos! Como é que os teus pais podem não querer vê-los? - Perguntei muito espantada.
- O meu papá morreu quando eu nasci e a minha mamã gosta mais de falar com a minha tia do que de ver os meus desenhos.- Respondeu encolhendo os ombros.
Vi-lhe lágrimas nos olhos quando falou do pai, mas rapidamente as limpou olhando para mim com um sorriso.
- Por isso és tu a primeira a vê-los, como eu disse ontem. - Disse ela continuando a sorrir.
- Bem, e como eu já tinha dito, os teus desenhos são lindos! - Comentei esboçando um sorriso.
- Obrigada! - Respondeu-me.
- Onde aprendeste a desenhar assim Inês? -Perguntei.
- Aprendi sozinha. Já desenho desde os três anos. - Respondeu-me com um sorriso.
- Uau, é espantoso! - Comentei maravilhada.
- Posso desenhar para ti! -Sugeriu-me.
- E por que não? Adorava! -Disse-lhe com entusiasmo. - Trouxeste folhas e lápis?
- Sim. Trago sempre e tento desenhar aquilo que me parece mais bonito no parque. Como as folhas, o céu, as árvores….
Apoiei a cara na mão e fiquei a ouvi-la a enumerar todas as coisas belas do parque, até das pessoas ela falou.
Conversámos, fizemos desenhos, e para ser sincera Inês fazia-os muito melhor do que eu, e rimo-nos imenso principalmente dos meus desleixados desenhos.
- Sabes que faço anos amanhã?!- Disse ela de repente.
- Não, não sabia! Quantos anos fazem? - Perguntei.
- Sete. - Respondeu.
- Vais ter uma festa e bolo, não é?
- Não. A minha mamã só me dá uma prenda, nada de festas. - Respondeu-me.
- A sério? E tu não ficas triste com isso?- Perguntei parando de desenhar e olhando- a nos olhos.
- Um bocadinho, mas já estou habituada, por isso não digo nada!
- Nem choras?
- Sim, durante toda a noite, mesmo sabendo que não vale a pena.
Não consegui dizer mais nada, só consegui pensar "Coitadinha nem uma festa de anos a mãe lhe faz!", mas eu não podia fazer nada. Só se.... Virei-me para ela radiante, porque tinha tido uma ideia maravilhosa.
- Amanhã trás o teu vestido mais bonito! - Disse-lhe com um grande sorriso.
- Está bem. Mas porquê?-Perguntou confusa.
- Nada. Trá-lo é só isso. - E continuei a desenhar sem dizer mais uma palavra acerca do assunto.
- Ok. - Disse ela continuando também a desenhar e a rir-se dos meus desenhos.
- Ha ha ha! Esse parece uma pedra com picos! - Disse Inês entre as gargalhadas.
- Não, este já se parece com um pássaro. -Protestei, rindo-me logo a seguir.
- Não, isto é que se parece com um pássaro, Di. - Ripostou apontando para o seu desenho.
- Também. Tens razão. O teu parece-se mais com um pássaro do que o meu, mas ainda só estou a aprender! -Voltei a protestar.
- Pois! - Disse Inês dando uma risadinha.
Às sete disse-lhe que tinha de me ir embora. Inês voltou a dar-me um beijo na testa, mas desta vez esperou deixando-me beijar-lhe a bochecha.
- Adeus miúda. Porta-te bem e até amanhã! -Disse-lhe antes de ir.
- Adeus Di. Até amanhã! -Respondeu-me indo-se embora a seguir.
Fiquei a vê-la ir-se embora e depois saí do parque, mas em vez de me ir embora, fui a uma loja de roupa comprar um vestido para Inês.
Quando cheguei a casa e embrulhei o presente. Depois fui fazer um grande queque e guardei tudo dentro de um saco, mais uma vela com o número seis e um isqueiro.
No outro dia de manhã estava ansiosa por ir ao parque outra vez primeiro, porque queria ver Inês e depois porque queria ver a reação dela à pequena festa que lhe preparei.
Bem, à tarde lá fui eu novamente para o parque, com o saco na mão e um sorriso nos lábios. "Espero que ela goste" pensei quando lá cheguei. Vi-a sentada em cima das folhas com aquele olhar pensativo e com aquele vestido de seda com o qual estava no dia em que nos conhecemos. Aproximei-me e pousei o saco no chão.
- Parabéns pequenina! -Disse-lhe dando-lhe um grande beijo no rosto.
Ela riu-se e disse com um sorriso:
- Obrigada Di.
Inês vira-se para tirar qualquer coisa da mochila que está atrás dela e, eu, com toda a rapidez tiro o queque, o isqueiro e a vela do saco e acendo-a.
- Parabéns a você, nesta data querida.....- Começo a cantar.
Inês vira-se lentamente para mim e ao ver o bolo fica muito quieta a olhar-me e à medida que eu cantava às lágrimas caiam-lhe com mais intensidade pelo rosto a baixo.
E quando a cabei de cantar disse-lhe novamente:
- Parabéns Inês. Só te queria dizer que apesar de nos conhecer-mos à pouco tempo, eu te adoro como se fosses minha filha e....
Ela não me deixou acabar, atirou-se para o meu pescoço e disse:
- Quem me dera que o que dizes fosse verdade, porque eu também te adoro como se fosses minha mamã Di!
Fiquei sem fala e uma lágrima escorreu-me pelo rosto abaixo. Apertei-a contra mim e beijei-lhe o cabelo com ternura. Depois soltámo-nos, eu limpei as minhas lágrimas e passei os polegares pelos olhos dela limpando-lhe as lágrimas também.
- Tenho mais uma coisa par ti.
Voltando-me para o saco, tirando o vestido que lhe tinha comprado.
- É um presente..... obrigada Di! - Vieram-lhe novamente as lágrimas aos olhos.
Puxei-a para o meu peito encostando-a a mim com ternura.
- Adoro-te Inês. Seremos amigas para sempre e nada nos separará, nunca! - Prometi-lhe, com um sorriso.
Ela olho-me com um sorriso e com os olhos molhados e, mais uma vez, limpei-lhe os olhos com os polegares. Dei-lhe o embrulho com o vestido e fiquei a vê-la abri-lo, com cuidado e devagar, depois fizemos o que costumava-mos fazer, desenhar, pintar, dar um passeio pelo parque e ao fim do dia ambas fomos para casa.
Repeti-mos os encontros no dia seguinte e no outro e no outro e para abreviar por vários meses e divertimo-nos mais do que nunca as duas.
Mas um dia a nossa felicidade foi derrubada por uma mudança.
Dia 30 de julho, cheguei ao parque para ver Inês novamente, mas quando ela me viu em vez de sorrir e ficar com aquele ar pensativo, correu para mim a gritar o meu nome.
- Eh, acalma-te! Está tudo bem. Eu estou aqui! - Disse-lhe quando ela embateu em mim com toda a força e a dizer repetidamente "Não, não, não, ....". - Acalma-te e conta-me o que aconteceu. - Insisti.
Ela acalmou-se e disse a soluçar.
- A.... minha.... mãe.... quer.... mudar.... de.... casa.... e.... vai.... levar-me!
Recomeçou a chorar contra a minha camisola. Baixei-me e sentei-me no chão sentando-a no meu colo.
- E não gostas da casa? É isso?- Perguntei.
- Não! - Respondeu-me fungando. - A casa é muito bonita, grande, quente e confortável.
- Então porque choras? - Perguntei confusa, arqueando as sobrancelhas.
- Porque não vou voltar a este parque. Nunca mais! Não vou estar contigo nunca mais. - Respondeu-me com lágrimas nos olhos.
Não consegui dizer mais nada porque se disse-se começaria a chorar também, por isso limitei-me a encostá-la a mim e acariciar-lhe o cabelo.
- Independentemente do que acontecer e do quão longe nós fiquemos, tu serás sempre a minha menina e estarás sempre no meu coração, nunca te esqueças disso. Vou ter muitas saudades tuas e gostava que ficasses, mas sei que vais acabar por te habituar à tua nova casa, aos novos amigos e provavelmente a um novo parque. E talvez faças uma nova amiga nesse parque. Já pensaste como seria giro?! - Disse-lhe sorrindo, tentando disfarçar o tremor na minha voz.
- Mas e se eu
não me habituar? E se não fizer amigos? E se nem sequer houver um parque onde
eu possa brincar? - pergunta.
- Isso nunca
vai acontecer. E sabes porquê?
- Não.
- Porque
ninguém vai conseguir dizer que não quer brincar com a menina mais especial que
alguma vez conhecerão.
Quando acabei a
frase ela levantou a cabeça e olhou-me com aqueles olhos cor de mar a cintilar.
Estes iluminaram-me de tal forma que percebi, que por mais escuros que viessem
a ser os meus dias sem aquela criança, se me lembrasse daqueles olhos
brilhantes iria conseguir ultrapassar melhor a dor.
Passei a mão
pelo seu rosto.
-
Não há nada a fazer acerca da tua ida, mas promete-me que se por acaso, algum
dia, passares aqui perto vem a este parque.
- Estarias
aqui se eu voltasse? - Pergunta fungando.
-
Claro que sim. Estarei sempre aqui à tua espera aconteça o que acontecer. - Respondi com um sorriso enviesado.
De repente uma voz esganiçada e apressada chama Inês:
- Inês onde andas? Está na hora de irmos embora!!
É a mãe dela.
- Bem, está na hora de ires embora meu amor.
Ela deu-me um beijo e um abraço e disse:
- Adoro-te Di. Sempre.
- Eu também Inês. Sempre.
Senti duas lágrimas a escorrer-me pelo rosto e limpei-as rapidamente antes que ela as visse.
- Adeus. - Disse-lhe.
- Adeus. - Respondeu.
Levantou-se e foi ter com a mãe.
Levantei-me e fiquei a vê-las até elas saírem do parque e eu as ter perdido de vista.
- Adeus, até à vista miúda. - Murmurei. - Sê feliz!!
Fui para casa. Sentei-me no sofá
Apesar da tristeza que obviamente sentia por ter perdido uma amizade tão forte, sentia-me, ao mesmo tempo, feliz, porque agora Inês iria ter mais amigos e mais pessoas que lhe dariam atenção e a fariam sentir-se feliz.
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